Nilson foi o único jogador residente em Cabo Verde convocado para um recente compromisso com Marrocos. Mas o caminho para o sucesso teve vários percalços: caiu nas malhas do crime e esteve na prisão. “Jovem criado na zona de Ponta d´Agua, futebolista, amante de futebol que hoje está na seleção de Cabo Verde, um tubarão azul com muito orgulho”, é assim que se apresenta Admilson Gomes Monteiro, mais conhecido por Nilson no mundo do futebol. Hoje com 27 anos, o futebolista foi criado no seio de uma família humilde e considera que “muita gente não esperava pelo momento” de o ver ser chamado à seleção cabo-verdiana. Mas o caminho para o sucesso foi trilhado com várias dificuldades. Nilson caiu nas malhas do crime e durante vários anos pertenceu a um gangue que espalhou o terror na Ponta d´Agua, bairro na periferia da cidade da Praia “com bastante delinquiência juvenil, onde existem muitos jovens sem apoio”, explica. Usou armas, atacou pessoas até que um ataque a um agente da polícia, perpetrado alegadamente por outros colegas, o levou à prisão. Tinha na altura 20 anos. Cumpriu ano e meio na Cadeia Central da Praia. Na prisão diz que comeu o pão que o diabo amassou: “Foi o pior momento da minha vida. Caí no fundo do poço. Viver numa cadeia é quase sobreviver por piscar de olhos. Eu enfrentei todos os perigos que existem na vida”, lamenta Nilson. O clique para mudar de vida foi o nascimento da filha, hoje com 6 anos. “Quando conheci a minha filha estava na cadeia e esse foi o momento que agradeço a Deus até hoje. Foi o momento que dignificou a minha vida” – recorda o futebolista cabo-verdiano. Saiu da prisão, mas Nilson continuou a ser vítima da delinquência juvenil. Pouco tempo depois foi atingido por um tiro disparado por elementos de grupos rivais. “Alguns jovens que não acreditaram na minha mudança deram-me um tiro no pé”, afirma o jogador. O futebol como tábua de salvação Depois de um mês internado no Hospital Central da Praia, Nilson voltou a abraçar a sua verdadeira paixão, o futebol. “O futebol é a minha vida, sem ele eu não estava aqui. Se não fosse por causa do futebol eu estaria morto”, acrescenta. O futebol foi um escape para fugir da delinquência juvenil. Nos primeiros tempos, Nilson deslocava-se de táxi para os treinos para não ser atacado por grupos rivais. Estudou até à oitava classe. A paixão pelo futebol começou ainda criança com “peladinhas” no seu bairro. Mas, em março último, foi convocado pela primeira vez para a seleção cabo-verdiana de futebol, tornando-se no único jogador residente em Cabo Verde chamado para representar os Tubarões Azuis. Alegria de menino “Quando eu soube que fui convocado para a seleção nacional foi uma alegria imensa de um miúdo que ultrapassou todas as barreiras da vida e que, enfim, foi premiado com o que merecia há muito tempo”, lembra Nilson orgulhoso. Nilson tem como ídolo o italiano Buffon e sonha um dia jogar na Europa. Atualmente, é guarda-redes do Bairro, equipa que lidera o campeonato regional de Santiago Sul. O crime e delinqüência são páginas do passado. Agora Nilson quer ser um exemplo para outros jovens cabo-verdianos. “A mensagem que eu gosto de deixar aos jovens cabo-verdianos é para não nunca desistirem do sonho deles. Porque onde menos esperaram vão ter uma surpresa, porque a vida é feita de surpresas. Barreiras são feitas para superar”, remata o tubarão azul.
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