Segundo o ministro da Indústria e Comércio de Moçambique, apesar dos últimos acontecimentos, o país continua a atrair investimento estrangeiro não só na área da energia, mas também no setor do turismo."As caraterísticas dos ataques terroristas", que se têm registado nos últimos tempos no norte de Moçambique, "parecem ser provocadas por indivíduos impregnados de ideologia". A afirmação é do ministro moçambicano da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, quando questionado pela DW África se Moçambique continua a ser um país atrativo para as multinacionais do gás, como a americana Anadarko e a italiana ENI, tendo em conta os ataques justamente na zona de produção da Bacia do Rovuma. "As mortes que estamos a ver são mortes de catana. E eu, com a morte de catana, não chamo de guerrilha. Não tem como poder ser guerrilha. São perturbações, sim", afirmou o ministro à DW África durante visita a Lisboa. Ainda de acordo com Ragendra de Sousa, os responsável por esses ataques estão baseados fora de Moçambique. "As nossas forças de segurança têm estado a tomar as medidas necessárias, mas, como sabe, a província é grande". Ataques e raptos Os ataques na província do Cabo Delgado preocupam o Governo moçambicano, que considera que a solução para este problema não pode ser apenas militar. "Temos consciência do risco, mas [a solução] tem que ser militar, económica e social", ponderou Ragendra de Sousa, e as empresas não precisam de recorrer a seguranças privados. "Não creio que, na ótica de que se aquilo é uma guerrilha, temos que contratar segurança privada, não. As nossas forças de segurança estão ao nível e com capacidade de repor a ordem e a tranquilidade. Nós o que precisamos é fazer uma ação coordenada e combinada. Trazer as populações para áreas seguras, melhorar a situação de emprego, melhorar a situação de infraestruturas. Tudo isto vai acontecer exatamente pela aplicação dos projetos", garantiu. O governante moçambicano acrescentou que as empresas que investem na exploração dos recursos naturais moçambicanos sabem fazer a devida análise de risco quando decidem apostar no país. Mas e quanto ao rapto de empresários estrangeiros e nacionais em Moçambique, será que esta prática também está a dificultar a atração de investimentos? O ministro afirmou que, "se olhar do ponto de vista histórico, os raptos estão a decrescer". "Se comparar com outros países e falando com os próprios empresários, eles continuam a dizer que Moçambique é muito mais estável. Estamos a dizer que reconhecemos, estamos a fazer o que nos compete com os recursos disponíveis que temos para estancar". Setores prioritários A propósito da dimensão que estão a ganhar os investimentos estrangeiros para megaprojetos na área dos recursos naturais, Ragendra de Sousa recorda que o Plano Quinquenal de Governo tem como setores prioritários a agricultura, a energia, as infraestruturas e o turismo. "Portanto, turismo é nossa prioridade. O turismo é de efeito rápido e multiplicador. No setor energético, para nós os megaprojetos são atividades que o país precisa. Nós temos que resolver o problema da balança comercial". Porém, o ministro apontou que é preciso "resolver o problema do orçamento". Entretanto, com aumento da base produtiva do país, e a exportação de grafite, Sousa prevê a estabilidade da moeda moçambicana. Ragendra de Sousa reafirmou o interesse de Moçambique em receber mais investimento alemão. E garantiu também, na qualidade de economista, que o país vai continuar a ser atrativo. "A África Austral vai crescer 2,1% e Moçambique vai crescer 3,7%. A nossa taxa de juros caiu de 32% para 20%. Em 2020, a nossa expetativa é voltar a crescer 10% a 12%. Faltam dois anos, é só um pouco mais de paciência. O Estado está a funcionar, os projetos de investimento estão a funcionar", explicou o governante, citando dados do mais recente relatório do Banco Mundial. O ministro adiantou que Moçambique está a fazer tudo para normalizar as relações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que permitirá relançar a economia e as empresas. Ragendra de Sousa terminou esta sexta-feira (08.06) uma visita de cinco dias a Portugal, acompanhado de uma equipa que veio promover as oportunidades de negócios e de investimentos no seu país, no âmbito das grandes transformações que se têm vindo a registar na economia moçambicana nas áreas da mineração e das energias. A missão participou num roadshow em Lisboa e no Porto, organizado pela AICEP Portugal Global e a APIEX – Agência para a Promoção de Investimento e Exportações de Moçambique. De acordo com o governante, Moçambique também quer reforçar a parceria com instituições universitárias portuguesas a pensar no desenvolvimento do seu capital humano.
Comentarios