08 ? ensaio sobre o bem comum, o corona e?¦ thanos!
Preparando audio para descarga.
Escucha patrocinada. El audio empezará en pocos segundos...
Escucha sin anuncios y sin esperas con iVoox Premium
Pruébalo GratisiVoox Podcast & Radio
Comparte éste audio
Enlace directo
A continuación: 09 ? ensaio sobre o poço, dom quixote e a religião Cancelar 10
Preparando audio para descarga.
Escucha patrocinada. El audio empezará en pocos segundos...
Escucha sin anuncios y sin esperas con iVoox Premium
Pruébalo Gratis
PRIMEIRO SINAL
MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Vinícius de Moraes Talvez as mãos não estejam dadas neste momento. Talvez tenhamos saudade de algumas mãos que nos tocam com ternura. Talvez tenhamos saudade da mão cheia de ruga que nos prepara o café da tarde. Talvez… Talvez…
Talvez dar ou não dar as mãos seja, além do ato físico, um ato metafórico de amor, compaixão, empatia. Talvez dar ou não dar as mãos seja além da própria existência da humanidade. Talvez transcenda ao eterno e se materialize em uma pintura na Capela Sistina.
Talvez nossas mãos estejam limpas de álcool em gel, talvez sujas de ir comprar comida para o vizinho que necessita mais que nós. Talvez sujas, mais uma vez metaforicamente, dos supostos erros que fizemos ao longo da vida. Para este último caso, sabemos que há sabão, álcool em gel e que, sobretudo, o estoque é inesgotável.
Talvez a quarentena que estejamos sendo obrigados a viver seja para aprender a olhar para nós mesmos. Aprender a conviver com aquela pessoa que amamos, mas que dividimos apenas o bom dia e o bom noite. Para ter saudade daqueles que abraçamos rapidamente cada dia. Porque uma coisa é fato, a vida é breve e, nestes vários talvez que acabo de propor, existe apenas a única certeza de que a vida passa, vai embora, e não volta.
Ok! Eu me estendi um pouco, toca o segundo sinal e vamos começar.
SEGUNDO SINAL
Senhoras e senhores, respeitável público ouvinte, sejam todos bem-vindos ao Teatro do Povo, um local feito para todos. Antes de mais nada, você já lavou sua mão hoje? Já tomou água? Já fez uns exercícios? E o principal: já passou a mão num animalzinho? Ok, queria avisar que a descrição deste episódio está toda no site, assim como os links, referências e bibliografia. Lá também você encontrará outros artigos complementares, podcasts de cenas curtas, galeria de fotos e muito mais. Acesse gcosta.com.br
O Teatro do Povo é um espaço feito para você, para mim, para o povo. Por isso, ele só acontece através da ajuda de alguns parceiros. O primeiro é a ONG Sonhar Acordado de Jundiaí, de onde saem o tema do mês, as reflexões através dos debates que temos em mais de 5 instituições com os mais de 100 voluntários que mês a mês promovem o amor, o carinho, os valores humanos para crianças e adolescentes. Começamos o ano falando sobre o amor, e agora iríamos para o nosso segundo tema, o BEM COMUM, mas, ironicamente, pelo bem comum de todos, estamos de quarentena, por isso, vamos conversar um pouco aqui. Se você ainda não conhece a ONG, fique atento nas nossas redes sociais, o instagram é @sonharacordadojundiai e o facebook é fb.com/sonharacordado.jundiai
Esse ano também quero fazer algumas inovações por aqui e trazer mais gente para conversarmos juntos…. se você quer se anunciar, mandar uma sugestão de tema para debate, fazer parte de algum episódio ou apenas jogar conversa fora, mande também mensagem de voz para o whatsapp 11 97604-2752 ou um e-mail para teatrodopovo@gcosta.com.br e nos ajude a fazer deste teatro cada vez mais do povo.
Vamos lá então. Hoje quero falar sobre este tema tão simples e complexo que se chama bem comum. Mas aqui, o que é o BEM?
Em religião, ética e filosofia, o bem e o mal referem-se à avaliação de objetos, desejos e comportamentos através de um espectro dualístico, onde, numa dada direção, estão aqueles aspectos considerados moralmente positivos e, na outra, os moralmente negativos. O bem é, por vezes, visto como algo que implica a reverência pela vida, continuidade, felicidade ou desenvolvimento humano.
Já temos aqui algo discutido outras vezes. Um pouco sobre a ética e moralidade que vimos no Episódio 04 sobre a Verdade e também falamos um pouco sobre este tema quando analisei este tema sob a visão do filme do Coringa, no episódio 05.
O fato é que não podemos fugir deste conceito da moralidade e da necessidade de entender o meio no qual vivemos, a sociedade, a cultura e, por consequência, as diretrizes que regem o nosso viver. Apesar das leis e legislações, o bem está dentro de nós e sabemos onde e como buscá-lo. Sabemos que pensar no próximo ao oferecer-se para ir ao mercado, ao comprar 2 e não 8 potes de álcool em gel, ao olhar com carinho para aquela pessoa que amamos e negar o abraço. Sabemos decidir o que é o bem na nossa vida. Mas porque temos tenta dificuldade em vivê-lo?
Talvez a resposta seja porque ainda quando fazemos o mal, estamos procurando o bem. Mas como assim? Deixa-me explicar. Quando pegamos aqueles pote de álcool em gel em excesso, o objetivo não é fazer com que falte para o outro, mas que eu observe a mim mesmo e as pessoas que amo. O bem está ali.
Teorias da bondade moral investigam quais tipos de coisas são boas e o que a palavra “bom” realmente significa abstratamente. Como um conceito filosófico, a bondade pode representar a esperança de que o amor natural seja contínuo, expansivo e abrangente. Esperança, se se recordam do episódio piloto, é a certeza de que o amor existe e nós merecemos este amor. Mas quando achamos que merecemos amor demais, que nos faz exagerar na dose, precisamos da virtude da temperança, que resulta em generosidade e coerência conosco mesmo. Ainda, num contexto religioso monoteísta, é desta esperança que deriva um importante conceito de Deus — como uma infinita projeção de amor, manifesta como bondade na vida das pessoas. Em outros contextos, o bem é visto como algo que produz as melhores consequências na vida das pessoas, especialmente em relação a seus estados de bem-estar. E aí entramos na segunda parte: o que é comum?
Analisando de forma gramatical, comum é um adjetivo referente ao que pertence a todos ou do que cada um pode fazer parte ou participar e como substantivo é o que se apresenta em maior número; a maioria. Até aqui estamos bem e de acordo, certo? Mas como viver em conjunto? Como conseguir pensar na maioria? Como fazer com que as minorias tenham acesso?
Para eu aprofundar este tema do “comum” e tentarmos chegar numa conclusão, vamos far o exemplo de Thanos, em vingadores.
O raciocínio de Thanos se aproxima da lógica utilitarista, que pressupõe que o bem-estar da maioria deve ser buscado a todo custo, ainda que em detrimento do bem-estar da minoria. E a qui a gente entra no tema do utilitarismo, que está andando lado a lado com o bem comum, mas não é a mesma coisa. Vamos lá?
“Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar”, essa é a principal máxima utilitarista. O utilitarismo é uma doutrina ética proposta primeiramente por Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873). Tal doutrina fundamenta-se no princípio de utilidade, que determina que a ética deve basear-se sempre em contextos práticos, pois o agente moral deve analisar a situação antes de agir, e sua ação deve ter por finalidade proporcionar a maior quantidade de prazer (bem-estar) ao maior número de pessoas possível para que seja moralmente correta. Dessa maneira, o utilitarismo descarta por completo o imperativo categórico kantiano, tirando toda a correção moral de uma razão universal e oferecendo-a ao sujeito.
Para entender melhor, vamos usar aquele exemplo do trilho de trem? Para quem não sabe, é o seguinte: temos um trem vindo. De um lado temos 10 pessoas amarradas no trilho, e do outro temos apenas uma. O trem está indo em direção às 10, mas você pode mover a alavanca e direcionar para apenas uma. O que você faz? A pergunta não tem uma resposta certa, e falarei o porquê mais adiante. Mas foque este exemplo na cabeça. Voltando ao utilitarismo.
Jeremy Bentham foi um economista, jurista e filósofo inglês e o primeiro a teorizar o utilitarismo. Ele pensou em uma doutrina moral consequencialista, ou seja, que visa às consequências das ações morais em detrimento das próprias ações morais. O que importa, nesse sentido, é o resultado de certa ação, e não a própria ação. Isso significa que o agente moral deve estar sempre atento ao que vai acontecer se fizer algo. Também abre brechas para que o agente moral possa praticar certas ações que foram, muitas vezes, condenadas pela ética, como a mentira. Note que para Benthan devemos alcançar a maior quantidade de bem para o maior número de pessoas. Por isso a ele é atribuído o utilitarismo quantitativo.
Isso não é nenhuma novidade, já que Maquiavel em 1400 já havia dito que os fins justificam os meios. E não, não justificam. Mas existe um pouco de bem comum dentro da teoria do utilitarismo.
Então a gente chega em John Stuart Mill que, por sua vez, aprimorou a teoria do amigo. Ele adicionou ao utilitarismo a noção de qualidade. A partir de Mill, o utilitarismo passou a ser visto como uma doutrina que visa ao maior benefício ao maior número de pessoas possível e, quando necessário, o menor sofrimento possível. Para ele, a qualidade dos tipos de prazer e dor deve ser levada também em consideração. Isso opera uma mudança no cálculo utilitário. Ou seja, se vai fazer mal a alguém, que seja dos males o menor. Por isso a ele se atribui o utilitarismo qualitativo.
Agora se eu acredito que os fins não justificam os meios, como é que eu concordo com esses dois caras? Vamos lá. Primeiro que eles agiram de modo diferente de Thanos. (Explicação espotânea no podcast, ouça. Thanos decide puxar a alavanca sem se importar com a liberdade e liberdade é a palavra chave).
O utilitarismo é um agente normativo, usado sobretudo na política e legislações. Mas para entender melhor sobre este agente normativo, vamos ao terceiro sinal.
TERCEIRO SINAL
Existem pelo menos duas maneiras básicas de apresentar uma teoria de valor, baseada em dois tipos diferentes de perguntas que as pessoas fazem:
O que as pessoas consideram bom, e o que desprezam?
O que é realmente bom e o que é realmente mau?
As duas perguntas são sutilmente diferentes. Alguém poderia responder a primeira questão pesquisando o mundo através das ciências sociais, e examinando as preferências que as pessoas declaram. Todavia, alguém poderia responder a segunda pergunta pelo uso do raciocínio, introspecção, prescrição e generalização. O primeiro método de análise é denominado “descritivo“, porque tenta descrever o que as pessoas realmente veem como bem ou mal; enquanto o segundo é denominado “normativo“, porque tenta, ativamente, proibir o mal e valorizar o bem. Estas abordagens descritiva e normativa podem e devem ser complementares. Por exemplo, seguir o declínio da popularidade da escravidão através das culturas é trabalho da ética descritiva, enquanto informar que a escravidão deve ser evitada é normativo.
Interessante né? Dessa forma, caso o trem e a alavanca fossem um caso real, teríamos uma análise descritiva do que as pessoas acham que seria o correto e a partir daí teríamos também um agente normativo que iria puxar ou não a alavanca. Thanos não se importou com o agente descritivo, com o que cada pessoa achava, com a opinião. Para ele seu conceito de bem era absoluto e com ele ele agiu.
Outro exemplo e com esse eu vou mais no nosso dia atual, temos um sistema de saúde, onde está sendo sobrecarregado com um vírus. Temos vários utilitarismo sendo aplicados aqui: verbas da educação, cultura, esporte sendo enviada para a saúde; pessoas perdendo emprego ou ficando sem salários; estabelecimentos baixando as portas e tendo prejuízo. Estamos escolhendo a maior quantidade de bem e o menor mal possível para cada um. É o utilitarismo sendo necessário. Entende? Necessário. É normativo, não tem o que fazer.
Mas isso não é o bem comum, virtude. E aqui entra a diferença.
“O bem comum é o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada um dos membros, atingir plena e facilmente a própria perfeição. É o valor social que denota tanto o bem de todos os homens, como também o bem do homem todo.”
Dessa forma, a virtude do bem comum nos obriga a olhar para o grupo, sim. Obriga que escolhamos a maior parcela de bem, desde que este bem seja para todas as pessoas que compõem o grupo e seja também para toda a pessoa em sua individualidade.
No exemplo anterior, quando fechamos as portas, aceitamos viver a quarentena, estamos cooperando com o bem comum, uma vez que ele também coopera comigo, por inteiro. Interessa a mim, como parte do comum, que esse vírus seja exterminado. E quando nós assumimos isso e livremente escolhemos o bem comum, estamos vivendo a virtude.
O bem comum é, pois, este conjunto de condições da vida social. Hoje o conjunto de condições que precisamos são: médicos, enfermeiros, quarentena, álcool em gel, sabão, comida, etc. Quando todas as pessoas tiverem isso, então a virtude terá sido vivida.
Mas o que acontece com as pessoas que estavam tendo prejuízos uma vez que livremente, escolhem o bem comum? Elas entram em um novo grupo, um grupo que precisa ou precisará de um novo conjunto de condições quando tudo isso acabar. Assim, o comerciante que perdeu um mês de negócio, quando voltar precisará de ajuda e cabe, de novo, ao grupo entender quais os novos conjuntos de condições que este grupo precisa. Cabe a nós valorizar o seu trabalho, ajudar aqueles que estão na nossa comunidade. E quando a nossa comunidade estiver farta dos recursos necessários, partiremos paras as próximas comunidades.
O artista que teve suas peças canceladas, o fotógrafo que teve os casamentos cancelados, os freela que teve os empregos suspensos… cabe à comunidade apoiar, incentivar, comprar os ingressos quando voltar, remarcar o casamento, contratar de novo… Será um círculo, onde sempre alguém estará cedendo sua liberdade para ajudar a comunidade a ter condições, uma vez que a comunidade fará o mesmo quando a roda girar.
Cabe também a comunidades que têm muito, ajudar às que estão sem as condições. Somente assim a virtude será vivida facilmente. Somente assim teremos a perfeição em cada momento da vida. Somente assim chegaremos a todos os homens e ao homem todo.
Vamos aproveitar para viver o bem comum na pequena sociedade que hoje estamos criando dentro da nossa casa, com estas poucas pessoas com quem estamos convivendo. Vou listar algumas atitudes de bem comum para a vida, mas é hora de começar pequeno:
Prestar atenção se as pessoas à sua volta têm suas necessidades básicas atendidas e, se não, procurar fornecer o que falta (dentro de suas possibilidades);
Incentivar a atenção pelo grupo e desincentivar o egoísmo;
Praticar a escuta ativa, estando disponíveis e abertos para ouvir quem está conosco;
Estimular os desejos e vontades individuais das pessoas, desde que não prejudique a integridade delas ou de outras pessoas;
Conversar sobre como podemos nos desenvolver de uma forma que respeite os demais.
Enfim, podemos ir longe com esta lista, mas nós temos milhares delas circulando pelas redes sociais. Escolha aquela que mais te fizer bem e que faça o maior bem possível às pessoas e tenha coragem de vivê-la. O bem comum inclui o bem a você mesmo. Pratique, com ousadia, coragem, destreza.
Vamos para a reflexão final, mas antes, de mais nada, a descrição deste episódio você encontra no site gcosta.com.br/08 onde você também pode deixar seu comentário. Mande também mensagem de voz para o telefone 11 97604-275. Para finalizar, uma frase de Nietzsche
Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
Friedrich Nietzsche BIBLIOGRAFIA
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/utilitarismo.htm
O conteúdo 08 – ENSAIO SOBRE O BEM COMUM, O CORONA E… THANOS! aparece primeiro em Gustavo Henrique Costa.
Comentarios