"Os 77 por cento", projeto da DW África sobre a juventude africana, foi apresentado em Luanda. A Voz da Alemanha e a sua parceira em Angola, TV Zimbo, juntaram jovens para falar sobre o futuro do país e de África.A atividade começou esta quinta-feira (22.11) com apresentação do documentário sobre Luanda, no âmbito do projeto "Os 77 por cento". Também na sala da Mediateca 28 de Agosto, os jovens levantaram a voz para se discutir a construção do futuro de Angola e de África. O projeto "Os 77 por cento", idealizado pela DW África, quer refletir sobre o papel da juventude no desenvolvimento do continente, já que 77% dos africanos têm menos de 35 anos. Miguel Buila é um dos mais aclamados músicos do estilo gospel em Angola. O artista é portador de deficiência. "Tive que passar pela lixeira para poder ir à escola, estudar sem nenhuma cadeira de rodas, [viver] numa rua e numa casa à volta de lixo. Sonhava como muitos outros jovens e a forma que eu encontrei para sobreviver a tudo isso primeiro foi estar na igreja", disse. Também Katiliama é cantora angolana de jazz. Ela contou a sua experiência como imigrante em Portugal, dizendo que "não conhecia muito bem a definição da palavra racismo até chegar ao país". "O tempo já lá se foi, mas para quem é angolano sabe perfeitamente a situação de um imigrante lusófono passa. Foi um pouco difícil para mim", lembrou. Claudio Kiala é empreendedor, autor de um livro e rapper. Para ele, as plataformas digitais podem mudar Angola e África. "Por exemplo, o Facebook. Podia-se dizer que era só para quem tem acesso à internet, mas agora temos o Facebook zero (plataforma que permite usar a rede social sem gastar o pacote de dados do telemóvel). E agora eu pergunto: Como é que cada um de nós usa essas pequenas ferramentas que podiam nos dar a liberdade, seja em nosso beneficio como em beneficio de outrem?". MCK é um dos rostos do rap angolano. Cresceu nos becos do Chabá, no prenda, um dos bairros mais pobres de Luanda. O autor do tema "O país do pai banana" também contou os motivos da sua revolução, que no debate chamou de exercício de cidadania. "A minha infância tem a memória de dois amigos e eles tinham todas as coisas que eu não tinha: tinham motorizadas, tinham [sapatilhas] All Star, tinham as melhores namoradas, mas também eram gatunos, também tinham armas e destes só sobreviveu um, o Kota Pindura. Então, eu pensei: não posso ser um mero jovem do Chabá, eu tenho de inverter essa lógica e pegar nesse exemplo para salvar outras pessoas". Soluções para os jovens Qual é o denominador comum entre os jovens africanos e que soluções apresentariam? Perguntou a apresentadora do evento, a jornalista da DW África, Madalena Sampaio. "Acho que todos nós vivemos uma frustração social e política. Acho que cada país tem os seus problemas e jovens para reclamar os problemas", começa por responder Cláudia Kiala. E, Kataliama apresenta a sua posição como forma de solução. "Como africanos, devemos lutar pela nossa sobrevivência, pela nossa identidade, muitas das vezes. Muitas das vezes acabam por ser esquecidas". Danilo Castro, o blogger, aponta o regresso ao pan-africanismo com uma das soluções para África. "Os europeus põem sempre o europeu no centro da questão. O africano coloca o país dele no centro da questão. Eu acho que devemos também olhar para os africanos sem reflexos. Faz-me um pouco de confusão nós olharmos para os congoleses e dizermos ‘esse é langa'. Isso é pejorativo. Estamos a falar sobre umas das culturas mais ricas de África". Por sua vez, MCK diz "basta" ao simples envio de matéria-prima africana ao estrangeiro. "África continua ainda a ser o primado fornecedor de matéria-prima, entretanto essas matérias-primas não se traduzem em emprego". Já, Miguel Buila, deixa uma mensagem de esperança para o continente. "Vamos mostrar àquelas pessoas que perderam a esperança por causa de uma mina que lhe tirou as pernas. Há coisas que ninguém vai fazer. Se não ando com as pernas ando com a consciência". Depois da intervenção dos preletores, seguiu-se um momento de perguntas e respostas. A sala da Mediateca 28 de Agosto, na capital angolana, estava repleta de gente que participou ativamente no debate. No fim do evento, houve um espetáculo musical. A iniciativa foi da DW África, em parceria com a TV Zimbo, um dos canais mais vistos em Angola.
Comentarios