Assinala-se esta quarta-feira, 18 de julho, o centenário do nascimento de Nelson Mandela. Será que o líder da luta anti-apartheid reconheceria a África do Sul que deixou?Nelson Mandela ficaria muito preocupado com a África do Sul dos dias de hoje, comenta Jakkie Cilliers, diretor do Instituto sul-africano para Estudos de Segurança (ISS). "O Governo do Presidente [Jacob] Zuma, associado a corrupção, prejudicou bastante a África do Sul, e a coesão nacional foi afetada. Vai demorar muito até que o país recupere", afirma. Cilliers não é o único analista a dizê-lo. A África do Sul de hoje é vista por muitos como um país em alvoroço, com uma sociedade desgastada pela corrupção, pelo nepotismo e pela arbitrariedade. E o partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC), está dividido. Ramaphosa: homem de confiança de Mandela Jacob Zuma saiu, entretanto, da Presidência sul-africana e Cyril Ramaphosa ocupou o lugar em fevereiro de 2018. Ramaphosa era um homem de confiança de Mandela e foi, aliás, a primeira escolha do líder anti-apartheid para o suceder na Presidência. Mas, na altura, Thabo Mbeki impôs-se no ANC. Agora, Ramaphosa tem um grande desafio pela frente, segundo o analista Cilliers: "A África do Sul tem de se voltar a unir mais. Ramaphosa tem essa possibilidade, porque é da era de Mandela, embora já tenham sido feitos muitos estragos." Problemas por resolver O diretor do ISS lembra que Mandela se concentrou na reconciliação de uma sociedade dividida pelo ódio racial, mas ficaram por resolver dois grandes problemas: a desigualdade social e a pobreza. A economia da África do Sul não cresce mais do que 1% do Produto Interno Bruto e a taxa de desemprego ronda os 27%, segundo os dados oficiais. Metade dos jovens não tem emprego. 80% dos estudantes universitários são negros, mas só 55% terminam os estudos. Ou seja, "Nelson Mandela ficaria certamente muito triste com a situação atual na África do Sul", comenta também Adam Habib, vice-chanceler da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. "'Madiba' não foi um santo" Ainda assim, o líder sul-africano "admitiria igualmente que houve erros enquanto esteve no poder", avalia Habib. "Por exemplo, a adoção de um programa económico conservador, que aumentou a desigualdade social, polarizou a nação social e politicamente." "'Madiba' não foi um santo", resume o analista. Habib enfatiza, no entanto, que não se deveria esquecer o grande legado de Mandela: "Como líder político, Mandela errou, mas também teve vitórias. A maior foi conseguir acabar com o 'apartheid' na África do Sul. Na altura, foi um momento difícil, que poderia ter conduzido a uma guerra civil", conclui.
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