Para pensar no "depois", no mundo pós-pandemia de coronavírus, a revista semanal L'Obs convidou 25 personalidades francesas e de reputação internacional de todas as áreas a responder a um questionário com três perguntas elaboradas pelo filósofo Bruno Latour. Do mundo anterior à pandemia, o que jogamos fora? O que mantemos? O que podemos inventar? Aceitaram participar dessa ampla reflexão a primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, o economista francês Thomas Piketty, o ex-ministro da Ecologia Nicolas Hulot, entre outras personalidades. Uma diretriz clara emergiu de todas as respostas: é preciso se livrar das atividades que destroem o meio ambiente e a coesão social. A maioria dos entrevistados se mostrou favorável ao fortalecimento do estado de bem-estar social e às trocas de proximidade. O mundo de amanhã deve rever os atuais critérios econômicos e contábeis, fazer um bom uso da tecnologia digital e estabelecer um novo relacionamento com a China. Para a primeira-ministra da Islândia, essa crise a convenceu a investir nas energias renováveis com mais rapidez, abandonando de vez o uso de combustíveis fósseis no transporte público. Será preciso convencer a comunidade internacional a ir mais depressa no combate ao aquecimento global, diz ela, e parar de pensar a economia em termos de PIB. Nicolas Hulot quer ver triunfar o comércio justo sobre o livre-comércio. Piketty, autor dos best-sellers "O Capital no Século XXI" e "Capital e Ideologia", sugere a criação de um cartão de crédito de carbono individualizado. Para a ex-diretora do grupo do setor de energia Engie, Isabelle Kocher, as empresas precisam redefinir o conceito de sucesso. Outras ideias que emergem são acabar com os encontros e seminários "no fim do mundo", que consomem toneladas de querosene no transporte aéreo. Acabar com a pesca industrial predatória das espécies e dar prioridade aos pequenos produtores locais. Najat Vallaud Belkacem, que foi ministra da Educação, diz que é preciso acabar com o menosprezo aos "invisíveis", trabalhadores essenciais para a sociedade, mas que não recebem o reconhecimento que merecem e ganham baixos salários. Diante das lacunas na gestão da epidemia do coronavírus, a especialista em países asiáticos Valérie Niquet defende maior pressão externa sobre a China. Ela diz que o país se tornou a segunda potência mundial ajudado pelo fato de não obedecer a regras sociais, ambientais, sindicais e outras. Ao mesmo tempo, a falta de transparência do regime chinês, a corrupção sistêmica e a ausência de liberdade de imprensa favorecem práticas cujo grau de periculosidade é perdoado, sem razão de ser, em nome do peso da China no cenário mundial. Essa visão precisa mudar, diz Valérie Niquet.
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