Mais uma personalidade conhecida dos franceses rompe o silêncio para contar que foi vítima de estupro aos 15 anos de idade. Desta vez, a denúncia cai como uma bomba no meio esportivo. O caso em questão envolve a ex-campeã francesa de patinação artística Sarah Abtibol, 44 anos, capa da revista semanal L’Obs. Ela precisou de 30 anos para vencer a “vergonha” que afirma ter sentido depois de ser violentada por seu treinador, Gilles Beyer. No livro recém-lançado “Um tão longo silêncio” (“Un si long silence”, editora Plon), escrito em colaboração com a jornalista da L’Obs Emmanuelle Anizon, Sarah Abtibol revela o inferno que viveu. Durante os dois anos em que fez parte da equipe nacional de patinação artística, e conquistou várias medalhas, Sarah Abtibol foi vítima do círculo vicioso formado por um predador sexual que abusa de seu poder de adulto sobre uma menina ainda saindo da infância e indefesa. Virgem na época, ela foi violentada sistematicamente por seu treinador após as aulas ou durante viagens do grupo para participar de competições. Os pais de Sarah Abtibol faziam, segundo ela, um enorme sacrifício financeiro para pagar o treinador “estrela”, considerado o melhor do país nos anos de 1990. O homem tinha um temperamento violento e gestos inadequados em relação às garotas. Mas, “o medo, a vergonha e a culpa” de revelar os abusos, sentimentos frequentes experimentados pelas vítimas de estupro, fizeram a ex-campeã se calar. Fim do tabu Passados 30 anos, a explosão do movimento “Me Too", a emergência de denúncias corajosas de outras francesas vítimas de seus mentores – como a atriz de cinema Adèle Haenel, a apresentadora de TV Flavie Flament e a escritora Vanessa Springora, todas vítimas de agressões sexuais por volta dos 13 anos – deram à Sarah Abtibol a coragem de quebrar o tabu. Nesta sexta-feira (31), depois de alguns dias de hesitação, o treinador Gilles Beyer, 62 anos, enviou uma nota à agência AFP na qual admite ter mantido “relações íntimas e inapropriadas” com a ex-campeã de patinação, quando ela ainda era menor de idade, dos 15 aos 17 anos. Na mensagem, ele se desculpa pelos fatos que ela relata no livro. Sarah Abitbol rejeitou categoricamente o pedido do ex-treinador. Ela lembra que até a semana passada, ele dava aulas para adolescentes num centro esportivo em Paris. As agressões sexuais contra ela estão prescritas, mas o treinador foi convocado para dar explicações à ministra do Esporte na próxima segunda-feira (3).
Comentarios