A revista francesa Le Point desta semana dá destaque em sua capa para o início do julgamento dos cúmplices nos atentados de janeiro de 2015 em Paris. A reportagem faz um balanço sobre o islamismo radical na França, cinco anos após o ataque visando o jornal satírico Charlie Hebdo, estopim de uma onda terrorista no país. Le Point lembra que o massacre na redação do Charlie Hebdo em janeiro de 2015, que deixou 12 mortos, foi seguido, um dia depois, do assassinato de uma policial e de uma tomada de reféns que matou quatro pessoas, dois dias mais tarde, no supermercado judaico Hyper Cacher. Os acontecimentos foram seguidos de uma mobilização de solidariedade mundial, com uma marcha reunindo 4 milhões de pessoas nas ruas da França, entre elas 40 chefes de Estado e de Governo, que desfilaram lado a lado em Paris, mas também iniciaram uma série de atentados de cunho terrorista. “Cinco anos se passaram e chegou a hora da justiça”, escreve a revista. A partir de 2 de setembro, os magistrados vão começar o julgamento de 14 pessoas suspeitas de participação nos ataques de janeiro de 2015. Todos, de alguma maneira, auxiliaram os irmãos Chérif e Saïd Kouachi, autores dos massacre na redação do jornal satírico, e Amedy Coulibaly, que atacou o supermercado judaico. Os três terroristas foram mortos pela polícia. Os radicais islâmicos venceram? A revista entrevistou sobreviventes e testemunhas dos atentados. Um deles é Richard Malka, advogado do Charlie Hebdo e amigo de vários dos jornalistas assassinados. Segundo ele, os radicais islâmicos "venceram a batalha", pois desde o massacre na redação, poucas vozes têm coragem de criticar o Islã ou publicar uma caricatura de Maomé, como fez o jornal satírico antes de ser atacado. Le Point também traz uma entrevista com Marise Wolinski, viúva do caricaturista Georges Wolinski, uma das vítimas no massacre do Charlie Hebdo. Jornalista, ela acaba de lançar um livro no qual se dirige a Chérif Kouachi, um dos terroristas. “Ele se incrustou na minha vida, e isso é insuportável”, diz a viúva, que não espera muita coisa do processo que começa em setembro. “Vão apenas estabelecer o grau de responsabilidade de cada um dos cúmplices no atentado. Mas não saberemos, por exemplo, por que o ataque aconteceu, nem por que os policiais que vigiavam a porta do Charlie Hebdo foram retirados dois meses antes do atentado”, desabafa Marise Wolinski, lembrando que o jornal satírico já era alvo de ameaças e boa parte da equipe vivia sob proteção. Em seu editorial, o diretor da Le Point Étienne Gernelle diz que cinco anos após os ataques, “apesar das promessas, a constatação deprimente é a de que, na França, a liberdade vive sob vigilância”. Para o jornalista, cinco anos depois, Charlie Hebdo continua sob ameaça de morte.
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